sábado, 30 de outubro de 2010

Elias Duba - Presidente do Madureira EC



Na primeira entrevista do 10minutos2gols, eu converso com Elias Duba, presidente do Madureira. Por cerca de 15 minutos, falamos sobre o papel da CBF na organização dos campeonatos e das dificuldades que um clube pequeno enfrenta para disputá-los, além de possíveis mudanças para o Campeonato Carioca do ano que vem.

Obs.: A gravação foi feita antes da rodada que culminou na eliminação do Macaé na Série C e do jogo Madureira x América - AM, pela Série D, que eliminou o clube carioca.


1ª parte
"A série D é resto da Série C"
"A CBF exige muito e dá muito pouco"



2ª parte 

"(Rubens Lopes) tem sido parceiro dos clubes e ele que tem dado suporte para que nós possamos chegar onde chegamos"

"A grande vitrine do futebol brasileiro é o futebol do Rio de Janeiro"


3ª parte 

"Mais de 90%(do elenco) pertence ao clube"
"Os grandes vão jogar no campo dos pequenos (em 2011)"




Essa é uma história sobre revoluções, caminhos cruzados e alianças improváveis. Boa leitura.

Hungria - 1949 
    
      Terminada a Segunda Guerra Mundial, o Comunismo se instala; e o futebol, bastante popular no país, começa a ser usado como ferramenta de propaganda do regime. Gusztáv Sebes, vice-ministro de desportos do país, é conduzido ao cargo de treinador da seleção nacional e começa a implantar o mesmo sistema que rendeu, nos anos 30, duas Copas do Mundo à Itália. Neste sistema, o elenco da seleção se resumia a uma ou, no máximo, duas equipes. A diferença é que, no caso Húngaro, essa mudança se dá bem ao estilo Comunista: “Imposição Incondicional”.
                Assim, o Kispest AC, até então um modesto membro da Liga Húngara de futebol, vê sua história mudar, radicalmente. Sua estrutura é “nacionalizada” pelo exército e, como em uma guerra, os melhores jogadores do país são convocados, não para pegarem em armas, mas para abandonarem seus clubes e se juntarem ao elenco, que já contava com József Bozsik e um jovem promissor chamado Ferenc Puskas.


Bozsik e Puskas
          

 Nasce então, de uma forma pouco ortodoxa, um time que revolucionou o futebol moderno, introduzindo o esquema 4-2-4, que encantou o mundo com sua técnica impecável e rigor tático sem precedentes. Começa a era dos “poderosos Magyares” da seleção da Hungria e do recém rebatizado BUDAPEST HONVÉD FC.


“Nós não falávamos muito sobre política; Na verdade, não nos importávamos com isso. Estávamos ali, vivendo nossas vidas. Só queríamos jogar futebol.” – Ferenc Puskas
                Desta forma, a seleção nacional vive a sua fase áurea no futebol conquistando as Olimpíadas em 1952, a Copa da Europa Central em 1953, além de ser o primeiro país não-britânico a vencer a Inglaterra, em Wembley. Eles também mantiveram uma incrível invencibilidade de 5 anos (ou 32 jogos), até a Alemanha Ocidental conseguir o que parecia impossível e vencer o esquadrão de Puskas na Copa de 1954, em um jogo que até hoje é lembrado como “O milagre de Berna”. O Honvéd, também, já nasce vencedor, levando o Campeonato Nacional em 49, 50, 52, 54 e 55. 

Os poderosos Magyares na Copa de 1954

                Em 1956, o Honvéd se classifica para a segunda edição da Liga dos Campeões da Europa e vai à Espanha no dia 1° de Novembro, para o jogo de ida contra o Atlhetic Bilbao. Enquanto isso, na Hungria, o que parecia ser um protesto isolado de estudantes, ganha o apoio de rádios, jornais e de grande parte da população do país, que deseja se livrar do domínio comunista e instaurar uma democracia.


O Campeonato Húngaro é interrompido.
                Tanques de guerra Soviéticos invadem Budapeste.
                O Honvéd perde na Espanha por 3 x 2.
 
Capa da TIME - janeiro de 57 e Budapeste tomada pelos tanques: A bandeira Hungara com o brasão comunista arrancado era o símbolo da revolução

                                 O começo do fim...

                Em vista da situação em que se encontrava o país, a realização do segundo jogo na Hungria era impossível. As duas equipes, Atlhetic Bilbao e  Honvéd, chegam a um acordo e a partida acontece na capital belga, Bruxelas. O jogo termina no empate de 3 x 3 e na  eliminação do Honvéd da competição.
                Antes da revolução explodir, o Honvéd conseguira uma licença para permanecer no exterior até Março de 1957. Béla Guttmann, treinador da equipe, acerta uma “mini turnê”, que passou por Portugal, Espanha e Itália (destaque para o empate de 5 x 5 com o Real Madrid). O governo interino, que agora controla o país, ignora a licença e ordena o retorno imediato da equipe. Liderados por Puskas, todos viram às costas para o presidente do clube e, como protesto pelo golpe de estado, decidem continuar a excursão. A Federação Húngara, agora totalmente controlada pelos Soviéticos, recorre à FIFA, que prontamente, interfere. O clube é desfiliado e oficialmente não existe mais. Qualquer clube que desobedeça a proibição de jogar contra o Honvéd, terá o mesmo destino.
                Um fim triste e precoce para uma equipe que mudou a forma como o futebol era visto e jogado.  O Honvéd FC, que encantara o mundo por mágicos 7 anos, agora jaz no limbo e carrega consigo o rótulo de time proibido.
               
Mas... e o Brasil?

              
Notícias correm o mundo, dando detalhes da praça de Guerra que se tornou Budapeste. A imprensa esportiva dedica grande cobertura à história do Honvéd e de seus jogadores, que tentam resgatar suas famílias da Hungria, sem muito sucesso. A Europa permanece em cima do muro e não se envolve abertamente na questão, temendo receber as tão alardeadas punições da FIFA.
                O alento vem do outro lado do Atlântico. O México, numa atitude corajosa, oferece asilo político a toda sua delegação, além de bancar a entrada do Honvéd no campeonato local. Logo em seguida, o clube recebe um convite do Flamengo para uma série de amistosos. O convite é aceito prontamente e os Magyares partem para o Brasil.


 Rio de Janeiro – 1957

                O Honvéd é recebido no aeroporto do Galeão pela imprensa e por uma multidão de curiosos, ansiosos para ver de perto o tal “time proibido dos soldados”, que estampava as manchetes esportivas da semana. A despeito de uma possível punição, o Botafogo aceita participar da festa e, juntamente, com o Flamengo, toma partido da organização das seis partidas que se seguem:

19 de Janeiro de 1957

                Flamengo e Honvéd fazem um verdadeiro espetáculo no Maracanã, para a alegria de 110 mil sortudos que, estarrecidos, viram o Flamengo de Evaristo vencer o aclamado melhor time do mundo e levar a “Taça Ponto Frio”, especialmente confeccionada para a ocasião.
                Final: Flamengo 6 x 4 Honvéd. 

O craque Evaristo - que na época ainda não era "de Macedo" - e a Taça

                Um detalhe curioso: a derrota na Copa de 50 e a eliminação em 54, deixaram o país mergulhado em uma “crise de vira-latas” tão forte que, parte da população, e mesmo da imprensa, não acreditou que aquele time que acabara de levar seis gols no Maracanã era realmente o lendário Honvéd. A resposta veio no segundo jogo.

27 de Janeiro de 1957
               
Uma semana depois, as equipes voltam a se enfrentar, dessa vez no Pacaembu. O Honvéd vence, convence e devolve o placar do Maracanã. Dessa vez, ninguém levantou suspeitas sobre a autenticidade da equipe.
                Final: Flamengo 4 x 6 Honvéd.

2 de Fevereiro de 1957
                
 De volta ao Maracanã, é a vez do Botafogo, de Garrincha e Didi. Quem teve oportunidade de assistir a essa partida, garante que foi um dos melhores jogos que o Maracanã já recebeu. O equilíbrio permaneceu até os 40 minutos do segundo tempo, quando Puskas recebe a bola, invade e marca, dando números finais à partida:
                Final: Botafogo 2 x 3 Honvéd.
  

7 de Fevereiro de 1957 
 
O combinado: Elenco de seleção
                O time vinha sendo ajudados por Húngaros, que residiam no Rio de Janeiro e eram simpáticos à revolução. A essa altura, alguns jogadores já tinham conseguido tirar suas famílias da Hungria, contando com a ajuda clandestina de amigos que ficaram no país. Outros não tiveram a mesma sorte e sabiam que em algum momento, teriam de voltar.
                Flamengo e Botafogo unem seus elencos e formam um combinado. Funcionários dos dois clubes cuidam da venda dos ingressos, da comida e até da limpeza do estádio, já que a Federação resolveu não se envolver, diretamente, na organização da partida.
                Começa o jogo e logo fica claro que nem mesmo uma lenda poderia resistir a uma linha de frente formada por Paulinho, Evaristo, Dida, Garrincha e Didi.
                Final: Combinado 6 x 2 Honvéd.


O jogo ganhou a capa da Manchete Esportiva
          Faltam duas partidas para que se cumpra o acordo de amistosos com a equipe de Puskas. Seria uma situação corriqueira, se não fosse o fato de que, caso as ameaças da FIFA fossem cumpridas, esses seriam os últimos jogos da existência do Honvéd. As equipes decidem realizar as partidas em território neutro e partem para a Venezuela.

Caracas – 1957 – Estação derradeira

Puskas e Kocsis recebem propostas da Espanha. Grosics, o goleiro, já tinha assinado um pré-contrato para jogar no Flamengo em 58. Mas a situação está longe do ideal e os dias que se seguem na capital Venezuelana são de incerteza e tensão.

16 de Fevereiro de 1957

O estádio da Cidade Universitária é o palco. As equipes fazem o que se espera delas e o grande público presente não se decepciona, sendo testemunhas de mais um grande jogo.
Flamengo por 5 x 3 Honvéd

Szomorú vége – Triste fim

O empate em 1 x 1 entre Flamengo e Honvéd, no dia 19 de Fevereiro de 1957, marca definitivamente, o fim do Esquadrão Magyar. O destino da delegação está selado e cada membro da equipe toma um rumo distinto à partir daí.

Béla Guttmann, o técnico, retorna ao Brasil e é campeão estadual dirigindo o São Paulo em 1957.
Guttmann no comando do Tricolor Paulista

Gyula Grosics não resiste à saudade de seu país e retorna à Hungria. O pré-contrato com o Flamengo é desfeito. 

Grosics em ação

József Bozsik, László Budai e Gyula Lóránt seguem o mesmo caminho e voltam ao seu país, cumprindo suspensões de até dois anos. Alguns outros conseguem contrato com equipes menores da Europa ocidental.


Budai e Lóránt

Zoltan Czibor e Sandor Kocsis assinam contrato com o Barcelona e permanecem na Espanha até o fim de suas carreiras.

Czibor e Kocsis

Ferenc Puskas, o maior jogador Húngaro de todos os tempos, é suspenso do futebol por um ano e meio e depois, vai fazer história no Real Madrid. 

Puskas em Madrid

Flamengo e Botafogo não recebem punição alguma.

Dequinha e Nilton Santos

Situações como essa, onde esporte e política se cruzam, ainda irão se repetir por muitas vezes pelas décadas que virão. Independente do contexto em que elas ocorram, o esporte sempre acabará sendo o maior prejudicado.

Em 1958, a FIFA decide voltar atrás e retirar o Honvéd da ilegalidade. Mas, à essa altura, daquela equipe mágica, do verdadeiro Honvéd, só sobrou o nome, as lembranças  e as histórias, como essa, que ainda serão escritas, enquanto houver gente disposta à correr os ríscos necessários; e que ainda serão contadas por anos e anos, enquanto houver gente disposta à ouví-las.